terça-feira, 7 de abril de 2009

GM aos 19 anos....

O diamante bruto do xadrez brasileiro
André Diamant, de 19 anos, é o mais novo grande mestre. É apenas o 8.º brasileiro a ostentar esse título

André Diamant tem 19 anos, mas já pode entrar na galeria dos heróis improváveis, feitos de talento, que o esporte brasileiro vez ou outra fabrica. Seus pais se separaram quando ainda era criança, ele viveu dois anos em Jericoacoara (CE), perdeu a mãe e ganhou um filho no ano passado... Mas nada impediu o jovem de conquistar o título de grande mestre de xadrez, feito que somente outros sete brasileiros já conseguiram.

André está longe do estereótipo do nerd tímido, cercado de livros e sem vida social. Na identificação no MSN (sistema de comunicação via internet), o jovem escolheu uma foto em que está sorridente, cercado de amigos. Diz que gosta de futebol (torce para o Santos) e que as pessoas que o conhecem não se intimidam com o fato de ele ser um enxadrista. "Os que não são enxadristas acham que é um negócio de nerd, porém eu sempre estou indo para muitos países e aí o pessoal acha legal."

Mas sua vida não é totalmente igual à dos outros jovens de sua idade. Dedicação e treino são necessários."Não posso ser igual aos outros garotos da minha idade porque abri mão de várias coisas."

A vida de André sempre foi cheia de desafios. Ainda menino, o pai e a mãe se separaram e ele ficou com o pai, Jean, que o ensinou a jogar xadrez aos 4 anos. "Meu pai sempre incentivou bastante. Ele é fanático."

De origem judaica, André começou a tomar aulas com com Sidney Corrêa Filho aos 6 anos. Aos 8 foi para o clube A Hebraica. Orgulhoso de suas raízes, competia usando quipá, que com o tempo foi substituído por bonés. O quipá, segundo André, era usado em sinal de respeito. "Hoje o povo fala que dá sorte eu jogar de boné", se diverte.

O dom foi notado rapidamente. "Quando criança dava para perceber que ele era um talento. Compreendia com muita rapidez a parte tática", comentou seu ex-professor, David de Israel. O raciocínio rápido chamou a atenção de outros associados da Hebraica, que lhe ofereceram bolsa de estudos e incentivo para continuar nos tabuleiros. Aos 11 anos, André passou dois meses na Rússia, estudando com especialistas, depois foi para a Espanha. "Dei um grande avanço. Foi uma grande experiência de vida."

Pouco tempo depois, o pai de André resolveu morar em Jericoacoara, uma praia paradisíaca. O menino continuou seus os estudos via internet. "Isso me afastou um pouco do xadrez, mas me abriu para o mundo. No fim, acho que acabou fazendo parte do meu aprendizado."

Mas grandes incentivadores de André, como José Luiz Goldfarb, não se conformaram com seu afastamento e foram buscá-lo no Ceará. O jovem passou a morar com a família de Viviana Bigio e retomou o rumo nos tabuleiros. Aos 17 anos já era mestre internacional.

No ano passado, porém, quase tudo foi por água abaixo. André estava mal no xadrez e na faculdade de sistemas de informação, perdeu a mãe e descobriu que a namorada estava grávida. Foi uma fase de preocupações, superadas com o apoio de Goldfarb e dos patrocinadores, (Medial, Banco Rendimento e Hebraica) que não o abandonaram. "Descontei tudo no xadrez. Sabia que a forma de lidar com tudo era dar uma crescida e amadurecida na vida."

André reestruturou a rotina, levou o filho Isaac para ser circuncidado na casa do avô, em Jericoacoara, e pegou firme nos treinos com o Gilberto Milos, seu atual professor. Na semana passada, foi à Argentina participar do Magistral de Ajo. Precisava de uma norma 6,5 na competição, que contava com três grandes mestres. "Estava confiante. Eu não espero nada não. Fui buscar o 6,5." Voltou vitorioso. Como grande mestre, André ainda não sabe como será seu futuro no xadrez, mas espera ter uma família grande e transmitir a paixão pelo esporte ao filho, de 4 meses. "Deixarei ele optar se quer ser enxadrista ou não, mas espero que seja."



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