Scooters 50 sobrevivem em Marrocos agreste
13-04-2009
Neve, gravilha, pistas e ternos não vergam aventureiros do MC Porto
Já não há sócios do MC Porto a querer viajar em motos normais para além do Queirós, neste momento na Guatemala? O Américo Cardoso lembrou-se de ir de moto4 para a Guiné. O Caldeira, Ilídio, Diogo, Amadeu e Xuma tiveram a ideia de ir até ao deserto marroquino em pequenas scooters Peugeot 50... E lá vão, palmilhando as inóspitas e frias paisagens do Atlas, com ventos fortes e muita neve nos cumes.
Para quem não segue as – às vezes – hilariantes peripécias e comentários destes autodenominados pomposamente de "Radical Riders” em http://radicalriders.blogspot.com/ o MC Porto dá uma ajudinha.
Como se devem recordar, o quinteto associado ao MC Porto, bem patrocinado por diversas marcas e apoiado por uma entusiástica multidão de amigos, arrancou dos Jardins do Palácio de Cristal no domingo 5 de Abril, antes do Baptismo de Moto que o MC Porto ofereceu ao público da Rádio Festival.
Foi impressionante ver semelhantes maduros em tão pequeninas máquinas, carregadas como mulas. O blog referido tem até um inquérito onde se pode votar “Não passam do Algarve”, “Vão mas avariam pelo caminho”, “Tomara poder ir com eles” e “Vão aguentar de certeza”.
Para já, os 4% de pessimistas que votaram a primeira hipótese falharam. Na primeira noite arribaram a Elvas e na segunda a Jerez de La Frontera. Aí surgiram as primeiras dificuldades. As vias rápidas espanholas são proibidas a ciclomotores e os nossos amigos viram-se aflitos para encontrar alternativas viáveis. Só para saírem da antiga meca do Mundial de Velocidade perderam, escrevem eles, duas horas.
Nem 30 euros de gota até Gibraltar
Mas lá conseguiram chegar a Algeciras e meterem-se como gente grande num ferry. Cada um gastou menos de 30 € em gasolina para atingir o estreito de Gibraltar! O desgraçado é o gigante Xuma, que deve pesar tanto como o Ilídio, Amadeu e metade do Diogo juntos. A sua scooter é obrigada a esforços redobrados e bebe muito mais para manter o ritmo. Volta e meia fica seco no meio das rectas. Mas é como diz o Pedro Soares Lopes, que ficou em terra a tratar do “gabinete de imprensa”: são crescidos e que se entendam a fazer a gestão dos jerricans.
E sob forte ventania, lá atravessaram para solo muçulmano, dormindo em Tetouan. A partir daí, como esperado, o envio de notícias já não é tão fácil, apesar da proliferação de cybercafés em Marrocos. Espantosamente, os nossos amigos são conhecidos de todos os outros mototuristas que se lhes atravessam no caminho.Todos tratam o quinteto pelo nome: Malucos!
De salientar o frio que se está a fazer sentir, em primeiro lugar. Logo de seguida, palmas para as resistentes Peugeot. Grandes máquinas! O pouco que nos vão dizendo é escasso: "Está muito frio e apanhamos neve de Ifrane até perto de Midelt" "A estrada para Ilmilchil é espectacular." "Amanhã é dia de descanso!" Isto parece a Volta a Portugal - pensa o Pedro - dia de descanso... como se estivessem a trabalhar...
E de resto, tem sido o costume para os aventureiros do MC Porto, pistas manhosas, estradas em obras, gravilha à brava, o Xuma sem gota e uma estória contada em primeira mão pelo amigo Caldeira, que nos põe a pensar que aquelas bandas tem realmente algo de mágico e misterioso. Põe um pai de família, cirscunspecto e respeitado, a conduzir como um teenager, esquecendo-se que está em África:
Caldeira dá novo look à sua Peugeot
”Ontem, sexta-feira, 10 de Abril, fizemos o percurso desde Ifrane até Midelt. Começamos a travessia do Atlas passando pela floresta dos Cedros tendo o Diogo, o Amadeu e o Ilídio ido fazer uma visita aos primos (que é como quem diz os macacos). O Xuma embalado pela música do seu MP3 foi continuando a subir o Atlas coberto de largos lençóis de neve.
Eu (Caldeira) fiquei na conversa com uns espanhóis de Alicante que começaram por nos chamar malucos e depois acabaram a dizer que tinhamos uns grandes cojones.
Segundo informações que nos deram a pista para Ilmichil estava impraticável para motos devido ao aluimento de terras provocado pelas chuvadas que se fizeram sentir na ultima semana. Sugeriram-nos uma pista alternativa que sai cerca de vinte quilómetros antes de Midelt e que passa por Toundfit. Decidimos aceitar a sugestão e assim fizemos.
A pista inicialmente apresentava-se dura mas perfeitamente praticável. Lá fomos nós nas nossas motinhas pelo meio das amendoeiras em flor, rodeados por uma paisagem anormalmente verde para esta região de Marrocos. A pista acabou a certa altura por entroncar numa outra que está a sofrer melhoramentos e que em breve estará alcatroada. Neste momento ja é uma estrada relativamente larga, coberta de gravilha... Ao fim de umas dezenas de km a confiança foi aumentando e os vossos amigos circulavam pela gravilha a 50 km/h. Como se isso não bastasse o escriva destas linhas apanhou-lhe o gosto e começou a conduzir de perna de fora como um piloto de motocross. Nunca me passou pela cabeça que uma cinquentinha pudesse dar tanto gozo e muito menos uma scooter... Vai daí aumenta ainda mais a velocidade e começa a sair das curvas em derrapagem. A certa altura, como os outros tinham ficado para trás, decide virar-se (pelo retrovisor não os conseguia ver). É aí que acontece aquilo que há muito era de esperar. As rodinhas pequeninas da scooter entram numa vala, a moto atravessa-se e o "piloto" vai pelos ares com a burra às costas. Resultado, um jerrycan cheio de gasolina que se rompe, os plásticos da carroceria desintegram-se e o condutor faz uma luxação no tornozelo direito e abre o joelho do mesmo lado. Passam-se alguns minutos do mais puro silêncio contemplando o azul do firmamento. Começo por contabilizar os membros para verificar se estou inteiro. Parece que sim. A perna direita dói-me como o diabo. De repente começo a ouvir o ronronar de um motor de scooter. É o Xuma que se aproxima. Com dificuldade consegue parar a sua moto sem me atropelar e sem se espalhar também ele ao comprido. Abeira-se de mim e, ansioso pergunta se estou bem. Ha tipos que fazem as perguntas mais disparatadas e inoportunas do mundo...”
As calças estavam boas...
As calças estavam boas...
”Ao ver as calças ensopadas de sangue nao tem meias medidas e rasga-me umas calças perfeitamente utilizáveis e faz-me ali mesmo um primeiro curativo. Entretanto chegam dois carros que param e os outros motociclistas. Prontamente pedem boleia para mim e para a martirizada scooter, que é carregada numa pickup rumo ao albergue Timnay. Lá chegados fazemos o inventário dos estragos. A moto pega à primeira e nenhum orgão mecânico, da suspensão ou travões ficou afectado. Apenas os plásticos terão de sofrer um curativo à base de fita americana e abraçadeiras plásticas.
O resto da tarde é passado comigo a queixar-me de dores (bem feito por ter abusado da sorte) e os outros a tratarem dos preparativos para o jantar e para passar a noite. O Xuma acabou por me terminar os curativos necessários com a ajuda do Amadeu e sob orientaçao da Sónia entretanto contactada por telefone. Depois de uma boa noite de descanso, já a sentir-me bastante melhor, cá vim eu para Midelt para almoçar e actualizar o blog enquanto aguardo que os outros regressem de Ilmilchil para encetarmos a viagem de regresso. Relativamente a fotos estamos com dificuldades em coloca-las.”
Entretanto o MC Porto publica aqui algimas fotos que atestam bem as agruras das faldas do Atlas por estas alturas primaveris. Que país...
Obrigado aos aventureiros e ao Pedro, pelos relatos e emoções! Aguardamos mais.
Posted by crazy riders
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