quarta-feira, 18 de março de 2009

MOTO-RALI EM TRAS-OS-MONTES

Sabor fica na memória de centena
17-03-2009




MC Porto atinge maioridade nos moto-ralis em Trás-os-Montes







Eh, brumelha! gritava o pastor Noddy para o rebanho de 64 motos em Torre de Moncorvo. Terminava em festa, com sol e alegria o 18º Moto-rali Turístico MCP – PROestima “Rio Sabor Enquanto Há”, passeata sob a égide da FMP participada por uma centena de mototuristas incentivados pelo Moto Clube do Porto em Trás-os-Montes, no fim de semana de 14 e 15 de Março de 2009. Completamente dedicado ao Rio Sabor, esta 2ª jornada do 13º Troféu de Moto-ralis Turísticos da FMP – Michelin, percorreu os concelhos de Alfândega da Fé, Mogadouro e Torre de Moncorvo, os três banhados pelo rio que irá sofrer alterações profundas com a construção de barragem para produção de energia. Se o vale fosse apenas mais um no nosso país, sem grandes atractivos ou predicados, talvez o MCP não lhe dedicasse tanta atenção. Mas o Sabor é um dos últimos rios selvagens do nosso país, um nicho de grande biodiversidade, um enorme santuário de vida selvagem. Serão 17 habitats naturais que irão ficar submersos e o tempo dirá os efeitos da mudança. Como tal o nosso motoclube homenageou-o de forma singela, levando a enorme caravana várias vezes às suas margens, em locais desconhecidos da quase totalidade da comitiva, escolhendo apenas as melhores estradas da região. O resultado final superou as melhores expectativas, fruto da experiência da organização (18 anos são 18 anos) e também do bom tempo que se fez sentir e que até prolongou a floração das amendoeiras para gáudio dos fotógrafos.







Recepção começou logo na sexta






Uma das coisas boas de um moto-rali turístico é que é um passeio cuidadosamente planeado e onde não há tempos mortos. É marcado ao minuto e todos são pontuais. E neste até teve um início saboroso. Como Alfândega da Fé não fica propriamente à mão principalmente para quem chega de sul, a esmagadora maioria dos participantes preferiu viajar para Trás-os-Monte na 6ª feira iniciando logo aí a festarola ao jantar no Santuário dos Cerejais. O MC Porto também abriu o secretariado nessa noite, tendo o Sérgio distribuído aí quase todos os road-books, mapas e documentação bem como compotas e lembranças gentilmente oferecidas pela Câmara Municipal de Alfândega da Fé. Assim, no sábado de manhã, foi um consolo receber os “concorrentes” na Praça de S. Sebastião, ao lado do Centro Cultural José Rodrigues, onde a Câmara oferecia um pequeno-almoço de boas-vindas. A Carla e João Krull envergaram os lenços amarelos - tradição inspirada no ciclismo e que o MC Porto cumpre há 17 anos - já que foram os mais regulares em 2008, na “Descida do Vouga”. Muitíssimas outras caras conhecidas foram aparecendo e trocaram-se abraços num ambiente muito transmontano onde nem faltavam as mulas a passar entre as motos. E às 10.01h, lá partiram, seguidos das outras 55 equipas, num total de 89 participantes – de doze motoclubes -, a que se juntaram 8 desorganizadores em 6 motos e uma carripana atafulhada de tralhas. Deste grupo desorganizativo destacamos 3 pessoas. Todas senhoras, todas a conduzir. Catarina, Paula e Fina deram bem conta do recado. Na caravana havia mais três. As super experientes Fátima Silva e Carla Silva e a estreante Teresa Marinho, de carta tirada recentemente. Valentes!






Sábado de manhã pela Legoinha e Remondes








Como já se disse, o tema do passeio era o vale do Baixo Sabor, pelo que rapidamente se saiu para o campo, pelo vale da Ribeira de Escarias e aldeia de Parada. Pouco adiante, em Vilar Chão, surgia curta paragem para se conhecer um pombal – dos 3500 que há no Nordeste – e confirmar os seus 170 espaços para ninhos interiores. E poucos quilómetros adiante surgiria o primeiro contacto com o rio selvagem. A descida fabulosa à praia fluvial de Legoinha é uma maravilha. Bem asfaltada, leva-nos ao sossego. Aí o Carlos Ruivo aguardava a rapaziada para o jogo do desmantelamento da barragem. Alguns conseguiram. Toca a subir de novo e novas espreitadelas ao património de Castro Vicente e Senhor da Fraga. Pouco à frente, na aldeia de Porrais, houve quem não reparasse que numa esquina de 90 graus, entre rebanhos, crianças e idosos, junto a uma parede de xisto e carroça, duas aldeãs tinham algo de estranho. Apesar dos chapéus e roupas de lavoura, as botas eram de moto. Eram a Paula e Catarina, extremamente bem camufladas a fazer um posto de controlo horário secreto. Deu boas fotos, o cenário! A estrada que desceu a caravana ao longo do rio Azibo até à medieval Ponte de Remondes é um consolo de curvas bem desenhadas. Abriu os sorrisos, que se escancararam ao dar com um casal de pastores nas rochas do Sabor. Eram eles o Hélio “Noddy” e a Cátia “Noiba”, vestidos a rigor, num ambiente sumptuoso. Deram a conhecer as dificuldades que os animais vão passar a ter para atravessar o rio quando a albufeira fizer subir o nível das águas dezenas de metros. E por isso, recriaram um jogo em que os participantes tinham de ajudar um veado a percorrer rochas dentro de água. Houve quem chafurdasse as botas e calças, traído pelo limo dos calhaus. Até o desorganizador-mor. Após a galhofa de Remondes, as motos voltaram a arredondar pneu por 20 km até Mogadouro. O apetite já aguçava os pensamentos e depois de algumas questões no centro da vila, dedicadas sobretudo a Trindade Coelho, escritor e filho da terra, lá se foi atacar umas casulas secas, único momento gastronómico do evento. Estavam muito boas, acompanhadas de enchidos.




Sto André e S. Pedro para sábado à tarde



Compostinhos, os mototuristas iniciaram a tarde com visita à feira de produtos artesanais que estava a decorrer em Mogadouro. Aí fomos todos brindados com mais uma simpatia, neste caso da Associação Industrial de Mogadouro, representada pelo seu Presidente João Pires, que por sinal é mototurista como nós. Muito Obrigado pelas lembranças distribuídas a todos! O castelo, ex-libris do concelho foi vistoriado rapidamente e quase todos repararam que o pelourinho era uma das várias fotos a cores que era necessário identificar ao longo do fim de semana, novidade que o MC Porto acrescentou a este evento. E de seguida viria outro momento alto, a descida à aldeia abandonada de Quinta de Sto André, onde havia trinta minutos para brincadeiras e questões. Os já conhecidos lavradores Hélio e Cátia pediam para identificar três árvores do azinhal em frente, do outro lado do vale, no Castro do Alto dos Mouros. Muitos conseguiram. O Ernesto, numas escadinhas de xisto adiante, lá vinha com as coisas de que só ele se lembra. Identificar a fauna selvagem pelos seus vestígios. Ou seja, mais cagalhotos como o da lontra há dois anos na descida do Neiva. Desta vez, tinha uns rilhotos recolhidos no mesmo castro que poderiam ser de raposa e outros maiores com pêlo. Eram de grande predador, sendo o mais provável o lobo ibérico. E não é que metade dos motociclistas disseram que poderia ser de corço, um herbívoro? E ainda havia a apanha da azeitona, varejando oliveiras mais ao lado, num espaço extremamente agradável. O Carlos Ruivo ditava as regras. Não foi fácil encontrar azeitonas mirradas no olival. Ainda não é o tempo delas. Mas foi engraçado. O grupo rolava contente, nesta região transmontana desertificada, acompanhando o Sabor aqui e acolá, entre oliveiras, azinheiras e amendoeiras. A tarde mantinha-se amena e a visita seguinte seria à aldeia de Quinta de S. Pedro, essa com população que acolheu de surpresa a caravana. Mais curiosidades, mais um naco de convívio. O road-book apresentava algumas falhas na quilometragem, mas os desenhos compensavam. A informação também era muita, com fotos e mapas militares a condizer. O rumo já apontava ao Santuário dos Cerejais mas ainda havia outra novidade. A descida opcional à ermida do Sto Antão da Barca, igreja e casario que ficará submerso pelas águas da albufeira. Opcional porquê? O caminho é de 4 km em terra com alguns regos e cascalheira. Quem lá descesse teria mais 30 minutos comprovando o atraso com foto da moto na ermida. E quase todos foram lá abaixo, mesmo com as motos de estrada! É assim mesmo. Quem não deu distância à moto da frente ficou branco de pó. A tarde terminava no miradouro do Calvário, já junto ao Santuário dos Cerejais, na remota aldeia com o mesmo nome, no concelho de Alfândega da Fé. Os participantes, de vistas cheias, sossegaram nos quartos e às 20.00h em ponto, ao som da primeira badalada do sino da igreja, a porta do refeitório abriu para a jantarada merecida.
Litos e Tita ou Moura e Cavaleiro dão show nocturno




O perú assado marchou num instante e quando já se deitava abaixo a sobremesa servida pela equipa chefiada pela sempre dinâmica Irmã Idalina, surjem os palhaços Litos e Tita, a pegar com toda a gente, a mandar bocas aos mais desastrados, a lembrar as peripécias do dia. Conseguiram a atenção geral e as gargalhadas de todos, até das cozinheiras. Dançaram com a Irmã Idalina, moldaram balões na cabeça da rapaziada e meteram-se com os desorganizadores. Por fim cantou-se os parabéns à Sofia Olivença, a aniversariante da noite. O Ernesto fez então um curto brieefing para o dia seguinte, pediu desculpa por qualquer falha e ditaram-se as classificações, distribuido-se também lembranças pelos motoclubes presentes. Com uma ou outra surpresa pelo meio, a liderança mudava de casal, passando para os habituados Casimiros, que assim ficaram de pescoço amarelado. Os 101 convivas – já se encontrava connosco o Nuno Rodrigues, presidente do MC Moncorvo e que muito ajudou este evento – sairam então para uma noite incrivelmente agradável. Já se sentia a chegada da Primavera e com esse ar morno leram aos pés do Cristo Rei as respostas certas das questões colocadas durante a etapa e deram uns passos na direcção da igreja. Aí, o Litos e Tita já eram outros. De negro e artilhados de peças mirabolantes, deram espectáculo de malabarismos de fogo, contando a lenda de uma Moura encantada cuja união a um cavaleiro fez criar o Sabor. Foram uns 40 minutos de bolas a arder, archotes incendiados, bruxas aos pulos e chamas lançadas pelas bocas deste par que se estreou da melhor forma num moto-rali!




Descida a Cilhade marca domingo de manhã




A etapa de domingo tinha de ser muito curta pois havia quem tivesse de percorrer 500 km para regressar a casa. Por isso começou às 8.51 para os primeiros, partindo agora as equipas de 30 em 30 segundos para abreviar o final. Da mesma praça de S. Sebastião em Alfândega, as motos partiram agora noutra direcção. Sendim da Serra, Ferradosa e Picões levaram os mototuristas às grandes panorâmicas sobre o Sabor, já bastante a juzante. Até se via o estaleiro da barragem. Passando a Cabreira – onde o Carlos Ruivo estava emboscado com controlo secreto horário – e Gouveia, o road-book mandava descer um estradão liso em terra de 4 km até ao estaleiro da barragem. E compensava pois levou a caravana à margem do Sabor, para se conhecer a aldeia abandonada – mais uma – de Cilhade, lugar de belas casas de xisto e contrafortes graníticos. O pastor Noddy ajudava a orientar o caminho e já entre o casario arruinado, a lavradora Cátia recriava o jogo do Chinquilho. Neste caso com uma pesada picareta. Nem metade acertou com ela no círculo de xistos. E depois tinha de surgir o “Mor” outra vez com as plantas. Agora era a cornalheira, giesta e lavanda, todas autóctones dos montes em redor. Vá lá que muita gente ainda vai sabendo destas coisas. Já no pontão sobre o Sabor, algo desvirtuado devido a ter sido alargado para a passagem dos camiões para a obra, o Sérgio perguntava pelo responsável por uma enorme pegada no cimento. Era de lobo ou cão grande, inclinando-nos para a fera, já que se fosse de cão pastor também lá deveriam de estar as das ovelhas do rebanho. Outra vez a surpresa. A quantidade de pessoas que disseram ser de lontra deixaram-nos atónitos. Deve ser a lontra-elefante, uma nova espécie a descobrir, para ter uma pata daquele tamanho. Subiu-se então ao Felgar, passando a cota 234 pintada no asfalto, marca que nos diz até onde poderá chegar a albufeira. O moto-rali turístico PROestima chegava ao fim diante da matriz de Moncorvo, igreja imponente que demorou cem anos a ser construída e é o maior monumento do vale. Com visita guiada ao seu interior e torre sineira, fechava-se com chave de ouro a passeata para se rumar então e em caravana para o restaurante, apertadinho e simples.
Final cedo a pensar nos algarviosCom eficiência e rapidez, o MC Porto fez os agradecimentos à PROestima, Michelin, MC Moncorvo e Sr. Manuel Cordeiro. O ambiente era de paródia pelo que muito se brincou com os participantes. As classificações foram-se divulgando, ao ritmo da entrega de diplomas e da tal folha com fotos coloridas para identificar. Houve quem chamasse milhafre ao pequeno melro-azul, uma das muitas espécies de vertebrados do Baixo Sabor... Os mais regulares foram o casal Casimiro, seguido do casal Sousa de Leiria e do casal Silva (isto parece um jogo da Majora) de Tomar. Eram 14.05h quando chegou a hora da despedida e as motos se fizeram ao caminho. A boa disposição sincera dos mototuristas dizia tudo. O MC Porto está extremamente agradecido a todos os que ajudaram ao sucesso do seu 18º Moto-rali, brincadeira anual muito turística iniciada em 1992, com a primeira etapa a rolar desde a Serra do Pilar, em Gaia e a terminar após uns 400 km nas Termas de Monfortinho! Como as coisas mudaram... O próximo MR pontuável para o troféu da FMP é já a 4 e 5 de Abril, organizado pelo experiente MC Albufeira. Podem recolher a ficha de inscrição na sede ou em mcalbufeira@sapo.pt Dentro em breve, mal a net não esteja a funcionar a carvão, teremos aqui bem mais de uma centena de fotos a provar tudo o que foi escrito. As fotos são da fotógrafa oficial Fina e também de Afonso Cerejo, um bom convidado de última hora. Obrigado




Posted by Nestov

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