quarta-feira, 6 de maio de 2009

AVENTUREIROS DO MOTO CLUBE DO PORTO À DESCOBERTA DA NASCENTE DO RIO MINHO






Subimos às duas nascentes espanholas do Minho
04-05-2009


Passeio do ano do MC Porto deslumbrou 42 mototuristas







Grande passeio este “Lidergraf à Nascente do Rio Minho” organizado pelo MC Porto de 1 a 3 de Maio, sob espectacular sol primaveril para 42 participantes em 23 motos. O fantástico trabalho de pesquisa e reconhecimentos de Artur Silva, sócio 78, e sua esposa Manuela, fez com este casal amante da Galiza desse a descobrir aos restantes mototuristas a forma como o rio Minho se desenvolve desde a nascente, sempre rodeados das melhores paisagens a norte de Orense.





E assim se passaram três dias de grande descontração, muito mototurismo, alegria e descoberta, tendo como pontos altos o conhecimento das duas nascentes do rio Minho (já explicaremos este fenómeno), as paisagens de grande qualidade da região de Lugo e os óptimos momentos e risota e convívio às refeições.





Fartote de pontes e barragens






À partida da sede do clube, na sexta de manhã cedo, as expectativas eram grandes e foram correspondidas. O tempo não poderia ser melhor – um fim de semana prolongado de sol radioso após dias de chuva para “limpar” e tornar a paisagem viçosa – um destino incomum e bem trabalhado, uma caravana que prometia coesão e “união nacional”. Foi isso mesmo o que se pediu a todos os condutores à entrada em Espanha, pela ponte internacional de Monção, sobre o Minho.







Era a primeira vez que os participantes se reuniam na totalidade já que muitos vinham de vários pontos do norte do pais. E o percurso, como obrigaria a mudar imensas vezes de estrada, graças ao tal trabalho minucioso do Artur, aconselhava a um grande cuidado para que a caravana nunca se partisse. Maravilha. E lá foram as motos pelo Minho acima, após já ter visto o rio internacional desaguar em Caminha. A um entra-e-sai em Portugal por Melgaço e São Gregório, seguiu-se a subida fácil a Ribadavia.



De registar a felicidade de ver passar nove botes de rafting onde o Minho é bravo e bonito em Melgaço, bem como fotografar uma cobra-lisa-bordalesa (que na altura nos pareceu uma cobra-de-água), marcou o início do passeio como um bom presságio. Nota da redacção incluída a 6 de Maio: Agora sim, temos a certeza da espécie da cobra, pois por erro referimos a 4 de Maio ser uma cobra-lisa-austríaca, espécie muito parecida. A cobra-lisa-bordalesa (Coronella girondica)cresce até aos 75 cm, não é venenosa e é muito passiva. Quando manipulada defeca, que foi o que aconteceu neste passeio à nascente do Minho. Ficamos cá com um cheirete nas mãos...Ribadavia tem um parque muito fresco na foz do rio Avia e que foi o escolhido para o piquenique, a única refeição que não seria de garfo e faca. Esteve-se muito bem, dando alento para a tarde, longa e vivificante até Portomarim.




O dia apresentava 355 km a vencer, 150 dos quais já feitos na mera ligação a Monção. A tarde é que prometia. Até Ourense, nada de especial, a não ser a enorme ponte medieval que há séculos se segura sobre o Minho. Até à foz do rio Sil, também nada que deslumbrasse. Muito casario descaracterizado, pontes de betão a torto e a direito, barragens antigas e provocadoras de albufeiras constantes. Mas é sempre bom saber de onde vem o “Miño”.




Numa dessas barragens há até um teleférico para peixes. Sim. Nunca funcionou pois os sáveis e lampreias não vão nessa de entrar para um tanque e subir pelos cabos... Na foz do Sil constatou-se que este afluente leva mais água que o próprio Minho. E o rio é até mais comprido. Será por o Sil não nascer na Galiza que deram mais fama ao Minho? Isso poderia mudar o rumo de muita nomenclatura. Se o Sil é que fosse até à foz, Braga passaria a ser a capital do Sil e todos os habitantes desta região portuguesas seriam os silotos.




Percurso melhora a norte


Mas deixemo-nos de tretas. A caravana começou a trepar a planaltos muito panorâmicos de urzes e matos coloridos. Começaram a surgir carvalhais e casas graníticas. Os Peares foi uma das terreolas de casinhas rústicas formosas e atractivas atravessadas. Seguiu-se a descida a Belesar, com vinhedos em socalcos, numa espécie de mini-Douro vinhateiro. O calor apertava no fundo dos vales. Mas tudo refrescava lá em cima. Cada paragem de “5 minutos para tirar uma foto” esticava-se para quarto de hora, pelo menos. Assim é que é. Na estrada rolava-se certinho, apesar da maioria das motos serem pesos pesados para tanto gancho, curvinha e asfalto estreito e manhoso. Mas os cenários compensavam. E o último planalto em redor de Chantada foi um consolo. O Cuarlos e Tuxa viraram para trás na CBR com pena nossa. Tinham vindo connosco apenas à aventura sabendo que teriam de regressar à Maia para dormir. Que esticão! Daí, uma nacional 540 fácil por Taboada levou o grupo – sempre com duas carripanas de famílias de sócios na cauda - até Portomarin, vilita histórica e obrigatória dos Caminhos de Santiago, instituição espanhola. O rebuliço era grande à chegada. O feriado atraía peregrinos a pé, de bicicleta, de camioneta e até com uma concentração de renaults semi-antigos que entupiam a praceta diante da robusta igreja de São Nicolau, autêntico “castelo-religioso” do séc XII e ex-libris de Portomarin.




Check-ins feitos, cara lavada, costas ao alto e há que jantar, colocando a conversa em dia. Tinha-se rolado muitas horas na estrada, cerca de dez, com ligeiras paragens pelo meio. Mas estava a compensar. Não se via ninguém com má cara. Muito pelo contrário.


Paisagens de qualidade em Lugo




O sábado seria o dia de subir finalmente à nascente do Minho. Acordou cinzento, já que os nevoeiros matinais são frequentes na região. Pontual, a comitiva fez-se ao caminho, tal como os peregrinos a pé. Mas nós não queríamos ir para a Praça de Obradoiro. Tínhamos 210 km a cumprir.



Começamos por uma volta muito bonita, mas infelizmente acinzentada. Mal a neblina matinal foi levantando confirmamos estar no melhor cenário de todo o fim de semana: o vale do Minho ainda ribeiro, por pequenos lugares como San Roman, Páramo, Cela e Sta Comba, autênticos e sem nada a desvirtuar as suas construções graníticas de telhados de lousa, entre frondosos carvalhais. Os prados de sebes arbóreas, com amieiros, salgueiros, carvalhos centenários e muitas outras espécies caducifólicas proporcionavam as melhores paisagens para as nossas motos que ronronavam a baixas rotações para deleite da comitiva. Paragem aqui, paragem acolá, sempre numa imensidão verde e pura de carvalhais fabulosos. Assim, sim. As pontes já não eram gigantes e de betão. Eram pequeninas e de madeira. Os motociclistas ficavam bem nelas. Parou-se ainda num parque urbano de Lugo, bem concebido nas margens do Minho represado por pequenos açudes porque aqui terminaram as albufeiras dos “envalses”. O café estava fechado mas havia sol e pureza no ar. Nem se notava estar na periferia de uma cidade, a poucos metros da sua área comercial. Tanto que dois guarda-rios brindaram os sócios do MC Porto com um voo rasante ao espelho de água. Mas que qualidade de vida... Já na estrada – que num ápice deixou a cidade para trás voltando ao carvalhal – rolavamos lado a lado com ciclistas, atletas e população activa a respirar saúde. A cafezada chegou finalmente, para estimular a paragem seguinte, numa curiosa ponte pênsil que o Artur foi descobrir junto a Meilân. Parecida com as nossas sobre o Tâmega, a construção de cabos de aço e arame deu para muita brincadeira e abanadelas.




A manhã corria com cinco estrelas. E corria pelas estradecas escolhidas pelos campos de Hombreiro, Aspai, Uriz, Rabade, Castro e muitas outras povoações bem cuidadas e onde apetece dar os parabéns aos habitantes pela estima que dão à imagem das suas terras. Não há uma casa a destoar, não há um telhado que não seja de lousa. Até as casas brasonadas os tem. Sobre os prados e bosque sobrevoam milhafres, águias e corvos. Entre o arvoredo, gaios e pegas.



Imaginam-se os corços, javalis, texugos e raposas escondidos à espera de oportunidade de sair em segurança. Confessamos: não temos nenhuma região com estas características em Portugal. Trás-os-Montes tem bons locais e o Minho também. Mas como esta envolvência de Lugo não há. Foi o melhor troço do passeio.




Digestão no Minho regato




Claro que toda esta beleza natural fez com que se tivesse de deixar as visitas às nascentes do Minho para depois do almoço. Meira, sede do concelho onde o rio nasce, tem um bom restaurante, o Pozo. Com sala cativante e acolhedora, preço em conta, serviço rápido e à lista (traduzida para português!), foi aqui que o MC Porto se sentou à mesa. Bem escolhido! Fica a recomendação.




E agora sim, vamos lá ver onde nasce o rio que desagua em Caminha. Um saltinho fora da cidade foi o suficiente para as motos estacionarem em Fonmiña, pequeno lago proveniente do afloramento das águas. Não haja dúvida de que estas são do Minho. O espaço é muito agradável e após a foto de grupo da praxe (obrigado pelo tripé, Zezé), giboiou-se com prazer. Chegou a hora de conhecer a nascente “oficial”, decretada por peritos hidrográficos. Subimos então quase aos 700 metros de altitude (este rio nasce incrivelmente a muito pouca altitude), na serra de Meira, estacionando junto a um regato que brotava de longo pedregal. O que é isso de pedregal? Uma extensão de 700 metros de pequenos calhaus, em reboliço pelo monte abaixo e de onde nascem vários fios de água, que engrossam até Meira, desaparecendo então, voltando a vir à suprefície na tal lagoa de Fonmiñá.




Claro que os 42 elementos do Passeio Lidergraf à Nascente do Rio Minho só sossegaram após a foto de grupo histórica. E mesmo assim, nem todos pararam à sombra, pois como cabras-montesas desapareceram de vista pelo pedregal acima, em busca não se sabe bem de quê. Quem foi, viu apenas a paisagem uns valentes metros mais acima, já que os milhares de calhaus pareciam não ter fim e obrigavam a outros tantos cuidados para evitar torcer um pé.





Justiça popular no MC Porto



Cumprido o objectivo do passeio, com garrafas de água atestadas com a do Minho mais puro, a caravana – onde se notava a estreia do pequenito Filipe como passageiro do Cândido - desceu então a serra de Meira para um regresso simples por Lugo e Taboada. Eis senão quando um condutor mais distraído deixa partir a caravana num viragem de direcção. Nada de grave, pois o Artur Silva tinha atafulhado toda a gente com mapas e road-books. Mas a distração ficou registada e o “criminoso” haveria de ser julgado pela justiça popular.




A tarde terminou com mais uns giros panorâmicos a sul de Portomarin - já com a comitiva reunida - para melhor contemplação da albufeira da barragem de Belesar, construção que obrigou a trasladar toda a vila (casas, pontes, igrejas e monumentos) uns bons metros acima, em 1961.

Mais um dia bem passado. Muito bem passado! Chuveiro rápido, umas cañas e toca a sentar à mesa, com as motos a ladear a igreja de S. Nicolau. À sobremesa, a justiça, que nunca pode falhar. Nada mais nada menos que o enforcamento público do vilão do dia. O Zezé, que num momento de distração se esqueceu que atrás dele ainda viriam uma dúzia de motos. À boa maneira romana, o povo decidiu-se pela morte (não foi bem assim mas não interessa...) do condenado e o nosso alegre bracarense despediu-se da vida na flor da idade.



Como no MC Porto somos todos bons rapazes, lá ressuscitamos o Zezé e a lição ficou feita. Sorteou-se então um bom livro sobre pontes do Douro e Tejo, oferta que foi precisamente para a única condutora feminina, a Teresa Marinho! E o MC Porto aproveitou o lanço para presentear o incansável casal Silva com dois jogos completos de roupa térmica MCP. Bem fixe! Mais uma noite livre pelas arcadas de Portomarin e o sábado estava terminado.
Peregrinos, mais do mesmo e um grande almoço



Domingo. Outra vez o malfadado nevoeiro. Mas já não tão limitador. Nova foto de grupo (o tripé foi útil pela terceira vez e por isso ressuscitamos o parte-caravanas) e há que engatar na estrada, coincidentemente a mesma que ladeia o Caminho Francês de Santiago. Ou seja, rolamos os primeiros 10 km lado a lado com os madrugadores caminhantes, de mochilas e cajados, de todas as idades e nacionalidades, que cerca de uma hora antes tínhamos visto partir da praça central de Portomarin, onde nos atrasamos a tentar resolver o furo traseiro da F 650 do Manel Simões. E que conseguimos, diga-se. A estrada foi agradável até Saviñao, ponto de paragem para uns “cafés solos” e gasolina barata. Depois? Mais do mesmo. Montanhas de curvinhas num sobe e desce pela praia fluvial de La Cueva, Nogueira, e Ervedeiro até ao almoço em A Peroxa. Mas já não havia carvalhais, já não havia telhados de lousa... O apetite apertava e o restaurante surgiu como um oásis desejado pois o calor já era muito. A mesa foi outra agradável surpresa. Muita petisquice, diversão e brincadeira. Este grupo revelou-se mesmo de truz! Agradecimentos em catadupa à sobremesa, onde os principais visados foram lógicamente o Artur e Manela.




Queremos que organizem mais roteiros para o MC Porto!



Não satisfeitos, ainda nos foram mostrar uma 5ª barragem e não sabemos bem quantas mais pontes até Orense. Aí, basta, engatamos na autoestrada e viemos directos para a nossa pátria, já cheios de hablar espanhuel. A despedida mostrou bem os laços que se formaram neste fim de semana prolongado. Na sombra de um relvado da área de serviço de Barcelos, mais risota, abraços e beijos. Uns seguiram para Cabeceiras de Basto, outros para Estarreja, outros para o Porto, outros ficaram em Braga. E o Rio Minho ficou bem presente na memória de todos. Obrigado pela disciplina, pontualidade e espírito posititivo. 140 fotos e um mapa aqui, centímetros abaixo.

E se quiserem ver as fotos do Zezé, espreitem em http://picasaweb.google.com/jmanuelsantos/NascenteRioMinho


Posted by Nestov

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